segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Vivamos como um só


Impressionante como acontecimentos diários e contatos com pessoas que pensam diferente de você marcam seu dia. Desde ontem estou com um sentimento forte batendo dentro de mim, que cada vez mais as pessoas querem se dividir em seus grupos "verdadeiros" e excluir quem não quiser se juntar a eles. Esse sentimento separatista sempre me incomodou (e ontem voltou a incomodar mais ainda) e mais uma vez fui buscar refúgio na música.

Na mesma hora lembrei dos acordes do Scorpions, Under the Same Sun. "Você já se perguntou se existe um paraíso lá em cima? Por que não podemos parar essa luta?", esses versos traduzem tudo, e mais adiante "Todos vivemos sob o mesmo Sol, por que não podemos viver como um só?". É uma ideologia lutando com a outra, um certo e outro errado? Claro que não. Todos estão certos, mas 99,9999% das pessoas não entendem isso.

Ninguém deveria tentar vender ideologia para ninguém, apenas respeitar. Respeite a opinião do próximo e aceite suas diferenças. Isso em todos os sentidos: religioso, político e social. É muito fácil criticar, falar bem de sua ideologia não ressaltando o que ela tem de bom, mas denegrindo a ideologia do próximo. Em outras palavras: "As minhas ideias estão certas porque as suas estão erradas".

Rock também é reflexão para mim, então queria só compartilhar esse pensamento com vocês. Voltando à música que usei como tema: "Por que não podemos viver como um só?". Por quê?


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Brasil está preparado?


Quem curte boa música e trabalho autoral (principalmente) já sofre com isso a algum tempo que é justamente a falta de apoio à música. O mais recente episódio que tive contato foi o fechamento do Mamba Negra, ambiente de shows destinados ao rock autoral. Dado esse episódio tive vontade de escrever algo, mas não sabia exatamente como me expressar.

Queria só deixar registrado, antes que alguém me critique, que não sou produtor de shows, não sou extremamente "ativo" na cena. Em outras palavras, não sou "autoridade" na cidade em termos de música. Faço minha parte como posso, apoiando muitas vezes as bandas à distância (comprando produtos e escrevendo resenhas).

Voltando ao texto em si, para início de conversa decidi colocar alguma música para rolar, e para garantir a inspiração, coloquei Toca-fita de Corcel, o Velho Cobertor. Escutando os acordes fiquei pensando se o Brasil realmente está preparado para curtir de fato bandas autorais. E mais além, penso se o Brasil ainda conseguirá manter casas de show destinadas ao trabalho autoral. É uma tristeza muito grande ver casas com o Mamba Negra fechando, e casas (sem querer desmerecer ninguém) que só admitem bandas covers (que pegam carona no sucesso dos outros e se acham "a última bolacha do pacote") prosperando e gerando lucro acima de lucro. Não estou dizendo que "A" está certo e "B" está errado, bem, vocês entenderam meu ponto.

A carga de trabalho das bandas autorais entre gravação e produção de trabalhos físicos (além das horas de composição e ensaios) é muito grande, e é uma pena muito grande isso não ser devidamente valorizado. O maior responsável por tudo é o público, para ele que o trabalho é produzido, e novamente não estou aqui dizendo para o público idolatrar as bandas autorais e só escutarem elas (nada de extremismo, por favor). Pergunto novamente: o Brasil está preparado?

Essa realidade não é exclusiva de Mossoró/RN, creio que várias cidades passam pelo mesmo problema. Precisa ter coragem para trabalhar de maneira autoral, não só produzindo shows, mas também sendo parte de uma banda. A força deve permanecer, senão todo o trabalho acaba. Escutando Jr, do Mad Grinder, lembro que a diferença entre um Mad Grinder e um Pearl Jam é apenas uma questão de oportunidade. Existem muitas, mas muitas bandas boas mesmo no nosso entorno, e bandas com qualidade. Nenhum álbum do Mad Grinder, por exemplo, deixa a desejar em termos de qualidade de gravação e composições. Essa mesma realidade é estendida para o Bones in Traction, nos acordes de Deception.

Eu ainda acredito no "Brasil". Por isso continuo trabalhando e produzindo mais conteúdo, seja no Godhound ou no Folie à Duo. Acredito que a música vai ter seu devido apoio, mesmo que seja uma realidade utópica no presente momento. Preparado ou não, vou fazer minha parte em apoiar a cultura, dentro de minhas limitações, e creio que quem quer o melhor para a música faz também isso. Você que está com esse mesmo sentimento que eu agora sabe que está nessa lista. Escutando Beyond the Moon, do Velociraptors, continuo a ter certeza que se cada um fizer sua parte essa realidade será mudada.

Para concluir, vou transmitir a mensagem que muita gente passa e não é nada demais repetir aqui. Apoie as bandas de sua cidade, apoie as casas de show local, compre produtos. Você não está adquirindo um CD ou camisa, você está ajudando o rock e sem ajuda o rock (nem nada na vida) sobrevive. Seja "solidário" com a cultura também.

Nessas últimas palavras, sabendo que o Brasil não está preparado para manter viva uma cena forte underground, acredito dentro de mim que sim (contradizendo-me), o Brasil vai conseguir, nós vamos conseguir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

É sempre bom ouvir metal tradicional


Saudosismo define os primeiros acordes do EP do No:Time, Wonder of Madness (2015), assim que comecei a escutar. Acordes e riffs lembrando o metal clássico marcam o início de Please God Help Me, com direito a coros "ôôôô" -- época boa. Nesse universo de bandas cada vez mais pesadas e querendo se sobressair com mais peso em relação às outras bandas do estilo, vibro quando ouço algo clássico. A linha da música lembra um pouco o HammerFall, com partes orquestradas de fundo, mantendo a atmosfera heavy/power metal.

A banda é formada por Carleton Leonard (guitarra e voz), Mauro Oruam (guitarra e voz), David Fonseca (baixo) e Wellington Júnior (bateria). Além de Wellington (que conheço do Damage Division), nunca tive contato com os outros membros. Isso para dizer que não conheço a experiência do pessoal com gravações ou bandas anteriores para fazer uma crítica mais profunda. Gostei da qualidade do instrumental, o pessoal se garantiu, destaque para os vocais e os riffs na guitarra -- trabalho excelente dos guitarristas, como manda o "figurino" heavy metal.

Voltando ao EP, Lost in Your Eyes traz uma melodia mais leve, lembrando o hard rock oitentista, novamente, com riffs excelentes. Notei que cada música traz uma influência diferente, a banda não está se prendendo a nenhum estilo. Isso, por um lado, acho muito bom, porque o "elemento surpresa" estará presente nas composições futuras. Encerrando o curto EP, com cerca de 14 minutos, vem a faixa-título Wonder of Madness. Essa foi a minha favorita de todo o EP. O início lembra um pouco aqueles elementos de teclado introdutório do Ozzy Osbourne, que o Judas Priest também usou em músicas como Out in the Cold, por exemplo. O instrumental rápido que vem logo em seguida contrasta com a introdução e dar um poder a mais à música. A melodia dessa música é mais pesada, resultado do seu ritmo mais lento. Outro destaque são as transições na melodia, principalmente na parte do solo, gostei de diversidade.

Concluindo a audição do EP Wonder of Madness (2015), fiquei com a sensação de que ele é um excelente cartão de apresentação para esse novo projeto. Mostra a criatividade dos músicos e fico imaginando o que teremos daqui para frente, qual linha de composição vão exatamente seguir. Como disse no título, é sempre bom ouvir metal tradicional, e confesso que sentia falta de bandas assim no Rio Grande do Norte -- minhas referências eram só o Deadly Fate e o Comando Etílico. Sentia falta de alguém para trilhar o caminho dessas bandas que curto bastante.

Quem tiver interesse, pode conferir o trabalho deles logo abaixo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Rock'N'Prosa Recomenda: Toca-fita de Corcel


Como meu tempo para escrever está um pouco limitado ultimamente, decidi criar um quadro aqui no blog: o "R'N'P Recomenda". O que seria isso? Simples, é uma mini-resenha de algum EP ou álbum. No entanto, isso não vai excluir as resenhas que tanto gosto de escrever.

Para começar, gostaria de falar dos meus amigos do Toca-Fita de Corcel. A banda capitaneada pelos grandes Diogo e Juan lançou o seu primeiro EP esse ano, o Briga de Bar. O estilo confesso que não é o que escuto normalmente, mas gosto muito da banda. Não tenho muitas referências no estilo, mas acho a qualidade do Toca-Fita indiscutível, a criatividade nas composições só cresce (lembrando os tempos de T3) e as letras são um show à parte.

Enquanto escrevia isso escutava O Velho Cobertor, ponto mais alto para mim do EP Briga de Bar. Segue aqui abaixo a playlist para vocês conferirem. Espero que curtam esse novo som e fiquem ligados que mais dicas virão.

capa do EP Brigad de Bar (2015).

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A Ordem do Caos


Foi com os dedos ainda enferrujados (dado o tempo sem escrever aqui no blog) que comecei a ouvir o Order of Chaos (2015), álbum de estréia do Blackning. Apesar da "estréia", a banda formada por Francisco "Chicão" Stanich (baixo), Elvis Santos (bateria) e Cleber Orsioli (vocal e guitarra) já tem bastante tempo de estrada, o Cleber, por exemplo, já tocou no Andralls, banda de fast-thrash de São Paulo, que já passou várias vezes por Mossoró/RN.

O álbum é aberto com a breve introdução de Thy Will be Done, que dá logo lugar a um riff pesado e marcante, mostrando logo a que o Blackning veio. O vocal lembrando o thrash do início dos anos 80 é bem marcante e fica muito bem associado com o peso da guitarra. A música reúne peso e velocidade, mas de um jeito que não fica poluído -- você consegue entender todas as linhas. Da mesma forma, o álbum continua com Terrorzone, só que esta explora muito mais o lado pesado da banda do que o lado melódico. Ou seja, castigaram bastante a bateria nos pedais nessa aqui. Novamente, destaco a facilidade no entendimento dos instrumentos. É pesado? É, mas de forma alguma é poluído. Abrindo um parêntese aqui, o maior "defeito" de bandas mais pesadas é querer fazer algo extremamente pesado e não se preocupar com a regulagem do som, o resultado é uma mistura de "barulho" (com perdão para a palavra) que ninguém sabe o que tá tocando exatamente. Costumo dizer que quanto mais pesado o som, melhor deve ser a qualidade dos equipamentos para captar bem aquilo e conseguir passar -- através da música -- todo esse peso para o público. Escutando o álbum tive esse sentimento logo de início, a banda realmente teve uma preocupação com o som, o que mostra todo o seu profissionalismo e vontade de entregar um produto de qualidade.
Blackning (da esquerda para a direita): Francisco Stanich, Elvis Santos e Cleber Orsioli.
Críticas -- positivas, diga-se de passagem -- à gravação à parte, o álbum continua com Unleash your Hell e (uma pausa para respirar, pelo início meio orquestrado) Against All, ambas seguindo a mesma linha já abordada nas músicas antecessoras, Unleash your Hell, inclusive, possui clipe (e muito bem produzido). 

Outro elemento que gostaria de destacar nas músicas é a criatividade. As músicas são pesadas, mas não são de forma alguma aquela coisa de manter o mesmo ritmo e ficar tocando mais e mais rápido, não, eles souberam fazer transições na melodia (variando entre partes pesadas e melódicas) de uma forma que não tirou o peso da música. Isso foi aplicado em todas as músicas e é um destaque do álbum, na minha opinião, porque não deixa a audição monótona. Imagino que até o fã "truezão" de thrash não aguenta ficar 40 minutos escutando "a mesma coisa" monótona.

Death Row, a minha favorita no álbum, traz o peso com doses de melódico no refrão (lembrando até as composições do Amon Amarth). Essa música traduz tudo o que estou escrevendo até agora, em termos de estilo da banda. O sentimento que mais me ocorreu desde o início da audição é: "Onde estavam vocês?!". Sério, é uma banda realmente muito boa e ao vivo deve ser ainda melhor. A qualidade das músicas é indiscutível, resgatando com maestria o thrash clássico. Sei que é muito bom inovar, mas sons retrôs sempre me atraíram e isso é o Blackning. Cara, e as composições, não param de surpreender, escute Devouring the Weak e me diga se não estou certo.
capa do Order of Chaos (2015).
Algo que não comentei é a temática do álbum, o título "Order of Chaos" me faz imaginar uma ceita que domina o mundo através do caos. Alguma semelhança com os tempos atuais? Não consigo imaginar (a luz do "sarcasmo" está acesa, caso não tenha percebido). A capa meio que mostra isso, um esqueleto que me lembra a virgem Maria com um bebê, com uma coroa de espinhos. Isso pode simbolizar os valores da sociedade (representados pela religião), ou seja, tudo está tendendo ao caos, tudo está tendendo a se perder. A tonalidade azul deu um caráter retrô, lembrando aquelas capas dos anos 80 -- clássicas.

Voltando ao álbum, para encerrar, Censored Season (com versos em português, lembrando os primórdios do Korzus) e Killing or being Killed fecham o Order of Chaos (2015). Mas, antes de se despedir, a banda gravou um cover do Overdose, Children of War. Confesso que nunca tinha escutado a banda antes, apenas sabia que eles gravaram um split com o Sepultura, antes de sair o Morbid Visions, claro que fui ouvir a banda agora. Conversando com Chicão, ele mencionou que tiveram a oportunidade de mostrar essa música para o próprio pessoal do Overdose, imagino a satisfação de todos.

Pois bem, acho que me estendi um pouco, mas o álbum merece. Qualidade impecável de gravação e composição das músicas, foi uma das surpresas de 2015 para mim, sem sombra de dúvida. É um item que certamente vou ter na minha coleção, e por falar em ter, a Diehard vende o CD (segue o link AQUI), quem quiser comprar pode pegar lá no site, eles entregam em todo o Brasil.

#Tracklist

1.THY WILL BE DONE
2.TERRORZONE
3.UNLEASH YOUR HELL
4.AGAINST ALL
5.DEATH ROW
6.SILENCE OF THE DEFEAT
7.DEVOURING THE WEAK
8.CENSORED SEASON
9.KILLING OR BEING KILLED
10.CHILDREN OF WAR (Overdose cover)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Estamos de Volta



"Isso ae", web-leitores, estou escrevendo apenas para dizer que estamos de volta à ativa!! Como alguns acompanharam, fechei temporariamente o blog para me dedicar ao Metal Nerd, mas, o ambiente virtual acabou por fechar. Com isso, decidi voltar ao Rock'N'Prosa -- como era minha intenção desde o início, caso o Metal Nerd fechasse --, e voltar a escrever os contos do rock'n'roll que tanto gosto.

Minhas ideias mudaram um pouco desde o início do Rock'N'Prosa. A ideia de não postar notícias ainda permanece -- teremos dicas e estórias, de uma forma literal, como trabalhamos nesses últimos 5 anos. As nossas colunas provavelmente sofrerão algumas mudanças, caso tenham acompanhado o desenvolvimento durante os anos. Mas, a essência do Rock'N'Prosa vai continuar.

O Prosacast, que estava sendo produzido no Metal Nerd, vai voltar para sua casa, mas, como meu tempo de dedicação ao blog voltou a ser pequeno, vamos deixar o projeto do podcast parado, por enquanto. Vou tentar manter um ritmo constante de postagens, a começar por amanhã, sendo que não vou deixá-las longas, assim a leitura flui mais e a informação consegue ser propagada do mesmo jeito.

Durante esse tempo fora continuei escutando as mesmas velhas bandas, e conhecendo novas bandas. Vou correr atrás de todo esse "tempo perdido" nos próximos meses, compartilhando com vocês os materiais que fui encontrando e expondo minha opinião sobre eles. Além do rock, vou finalmente trazer meus outros hobbies para o blog, como a cultura pop e os board games, não "estranhem" algumas postagens, tudo vai continuar dentro da atmosfera "metal".

Então, é isso por enquanto, pessoal, espero que gostem do que virá e em breve vou modificar o layout do blog para deixá-lo melhor. E por falar em "novas" bandas, uma que tenho escutado bastante ultimamente é o God is an Astronaut, fiquem aí com um som deles.


segunda-feira, 16 de março de 2015

Eu (não) quero mudanças


Enquanto fico sentado e calado, ouvindo o que os revoltosos tentam me fazer acreditar, apenas essas palavras conseguem sair da minha mente. Eu sou um idiota, que não quer se meter em nada, que não tem opinião, que está vendo o seu país morrer aos poucos.

Não demonstrar interesse na mudança do país não parte de um princípio de apoiar A ou B para ocupar uma certa cadeira em um certo local. Não importa quem chegue na frente, o mundo vai continuar livre. O mesmo idiota que vota em A, não votaria no B da mesma forma que o idiota do B não votaria no A – enquanto mantém a sua Guerra Fria com ofensas e ataques.

Vivemos em um mundo recheado de inverdades, onde é mais válido denegrir a imagem do próximo do que exaltar as qualidades do ser humano. Os donos da verdade acabaram de ter um orgasmo.

Esses verdadeiros donos da verdade, e de todo o poder filosófico de opinião, consideram-se Reis ou Rainhas da sociedade, se achando no direito de reprimir todo o mundo, que uma vez achou o seu ideal – um pouco – diferente, daquilo que os nossos espíritos foram acostumados a sentir. Não é que julgue certo ou errado, o mundo é livre, e todos têm o direito de fazer o que quiser.

Nos dias que seguem, eles entopem o mundo com o seu idealismo (correto, é claro, eles são os donos da verdade) – barato – e exaltam o poder da luta, da revolta, como instrumento da mudança. Mudança para quê? Eu respeito todo mundo que acredita nisso, e luta por isso, mas não respeito aquele que vem atacar o que não quer mudança. Mudança. Que palavra!

Esse mundo é movido pela palavra “mudança”. Já perdi as contas de quantas propagandas eleitorais assisti onde prometiam mudança. Até a mudança já cansou de tanta mudança. Entra A e sai B. O mundo continua como está. Isso abre espaço para uma única mudança – com o trocadilho –, devemos mudar as pessoas do nosso país. Não no sentido de expulsar todo mundo, mas no sentido de mudar a filosofia de cada um.

O idiota que não pensa e o revolucionário dono da verdade viveriam muito melhor em um país menos corrupto, isso é fato. Mas, a corrupção não parte da mudança proposta pelo candidato A ou B, ou pelos – in memoriam – partidos políticos. Ela parte da cabeça de cada um. Todos os seres humanos são bons e capazes de produzir o bem maior com sua força de vontade. O que diferencia um Presidente da República de um mendigo é uma linha quase invisível. É claro que numa sociedade desigual, o Presidente teve muito mais oportunidade de adquirir novos conhecimentos do mundo, mas, como ser humano, somos todos iguais.

A máquina que move o mundo é abastecida por corrupção há muito tempo. O sistema viciou e corrompeu o espírito de todos que chegam perto dele. Como um pelotão de ciclistas em uma corrida, ele engole aqueles que tentam se distanciar dele. O sistema move o mundo. O sistema (não) muda o mundo.

É por isso que não perco minha força postando cartazes e levantando a mão para A ou B, nessa eterna corrida presidencial. Eu tento viver o melhor que eu posso. Sei que não terei mudanças. Mas, a mudança dentro de mim já começou. Se um dia ela atingir o meu vizinho, e assim por diante, como uma progressão geométrica, A ou B serão um só – o idiota e o revolucionário também. Todos seremos moradores da mesma terra livre, com um único propósito: viver o melhor que podemos. Eu quero essa mudança. Viva o melhor.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Finalmente adentrando no Jardim Secreto


Depois de muita espera, eis que pego minha cópia do Secret Garden (2015), mais novo álbum dos guerreiros do Angra. Digo "guerreiros", porque eles passaram por muitas situações que culminaram ou culminariam no fim da banda, e eles continuaram. Sem querer criticar e já criticando, o problema de tudo foi dinheiro. O dinheiro tirou Andre Matos da banda, para a sua carreira-solo quase sem sal; o dinheiro tirou Aquiles Priester, que formou o Noturnall e continuou com o Hangar e o dinheiro quase levou a banda toda embora, quando um problema de longa data com um dos empresários da banda deixou o Angra fora dos palcos por certo tempo. Esse tempo de hiato serviu para Edu Falaschi se dedicar ao Almah, e deixar a banda (foi o melhor, não dizendo que ele é ruim), para Kiko Loureiro se dedicar à sua carreira-solo e para Rafael Bittencourt lançar o Brainworms I (2008), um dos melhores álbuns que escutei até hoje, sério mesmo.

Depois do conturbado DVD em comemoração aos 20 do Angels Cry (1993), que provocou mais brigas entre os membros antigos, brigando por direitos autorais -- novamente o dinheiro entrando em pauta -- eis que o Angra volta para o estúdio e nos apresenta mais um trabalho. A principal novidade do Secret Garden (2015) é a presença de Bruno Valverde na bateria e Fábio Lione nos vocais, dispensa apresentações.
capa expandida do Secret Garden (2015).
Pegando o meu álbum, gostei do acabamento, detalhe para a versão digipak -- não sei se será limitada. Artes que remontam um jardim e fotos da banda tiradas no Museu da TAM, em São Carlos/SP, estão em perfeita harmonia. Aprovado o trabalho artístico, vamos ao que interessa, que são as músicas.

Em se tratando de Angra, a primeira coisa que esperava era um "arroto" em dueto logo na primeira música, e passagens puramente técnicas, como é o costume. Mas, Newborn Me é um tapa na cara de quem tem esse sentimento. Nada de riffs rápidos e em dueto, um único riff pesado é que introduz a música, lembrando os bons tempos de Nothing to Say, no Holy Land (1996). Os vocais de Fábio se encaixaram perfeitamente na música, gostei do resultado. O refrão é excelente, ao vivo ficará poderoso. Outro detalhe é que o Angra não se adapta aos vocalistas, os vocalistas é que devem se adaptar ao Angra. É comum você ver uma banda mudar um pouco o estilo depois que um novo vocalista entra. Tive esse sentimento porque fiquei imaginando Edu Falaschi ou Andre Matos cantando a mesma música, são estilos semelhantes. 

No melhor estilo Acid Rain, do Rebirth (2001), Black Hearted Soul é a segunda faixa do álbum, e para quem achou que eles não chegariam, ali estão eles, os solos em dueto na introdução seguido de uma base rápida estilo speed metal. Refrão pegajoso, é uma música no estilo que o Angra sempre trabalha. Como achei o álbum muito rico -- já adiantando meu julgamento -- essa música meio que passou despercebida, mas, não deixa de ter seu charme. Final Light, uma das contribuições de Felipe Andreoli, é uma das minhas favoritas do álbum, o início pesado e o refrão potente são um convite a apreciar o Secret Garden (2015). Não consigo imaginar essa música sendo executada no show, mas é um dos pontos fortes do álbum, com direito até a percussão.

Storm of Emotions foi a música lançada como single e única música que já tinha escutado do álbum antes do lançamento. Início lento, com progressão para um refrão marcante. A principal parte dessa música para mim é quando Rafael canta. Podemos contar no dedo as vezes que ele fez uma participação em um álbum do Angra, e quando ele entra, entra "entrando". Ficou apoteótico. A partir desse ponto, temos sua participação cada vez mais nas músicas, o que achei sensacional, porque ele nos mostrou que o Angra não vai ficar preso mais a vocalista. O Fabio é da banda? É, mas, desde o início ele deu a entender que poderia sair a qualquer momento da banda, e em uma possível saída, Rafael poderia finalmente assumir os vocais do Angra, algo que deveria ter feito desde a saída de Andre Matos. Ele já mostrou sua competência, o único problema é sustentar com o ritmo dos shows.
Angra, da esquerda para a direita: Felipe Andreoli, Rafael Bittencourt, Fabio Lione, Kiko Loureiro e Bruno Valverde.
Algo que notei nesse álbum é que as músicas não estão difíceis para o vocalista. Se você analisar o Fireworks (1998) ou o Temple of Shadows (2004), por exemplo, são álbuns extremamente difíceis, mas, o Secret Garden (2015) deu a impressão de ter sido composto dentro do alcance vocal de Rafael. Mais uma de minhas favoritas, Violet Sky, é a faixa seguinte, cantada inteiramente por Rafael. A música segue mais ou menos a mesma linha progressiva de Storm of Emotions. Apesar de Fabio ser o vocalista -- agora oficial --, ele não cantou todas as músicas, como é o caso dessa. Isso deu uma versatilidade muito grande ao álbum.

A faixa-título Secret Garden, única faixa que não foi composta pela dupla Bittencourt/Loureiro (quase um Lennon/McCartney) e sim pela esposa do Kiko Loureiro, Maria Ilmoniemi. A música é diferente de todas as composições do Angra, obviamente, e de todas as músicas do álbum. Ela é inteiramente cantada por Simone Simmons (Epica), mantendo seu timbre natural de voz, não fazendo a "voz de opera" tradicional. Gostei da música. Têm muitas passagens de violino, obviamente 2 (a esposa do Kiko é violinista e pianista), e é a faixa mais orquestrada de todas do álbum. Novamente digo, é diferente de tudo o que apareceu antes em toda a discografia do Angra. Foi ousado colocar uma música dessas no álbum, mas, para mim, o resultado não podia ter sido melhor.

Com um riff no baixo, seguido de uma levada bossa-nova, Upper Levels nos "traz o Angra de volta". Essa música nos lembra das raízes brasileiras da banda, algo que eles sempre tentam trazer nos álbuns. Musicalmente, é uma das melhores do álbum, cheia de variações na melodia. Fabio acaba seu descanso e volta aos vocais nessa. Essa é mais uma música para você parar e ouvir. Arrisco em dizer que essa é um dos pontos altos da carreira do Angra, não dizendo que ela será um clássico, mas, é uma das melhores composições que eles fizeram. Depois da pesada, porém um pouco apagada, Crushing Room, cantada por Rafael -- com direito a participação da clássica Doro Pesch, nos vocais -- o álbum é "encerrado" com a rápida e fácil de ouvir Perfect Symmetry. Esta última segue a linha dueto na introdução e base rápida em pedal duplo, era a música que o álbum precisava ter, a ousadia já foi muito grande com as outras faixas. Mesmo sendo "mais do mesmo", gostei da música, principalmente do início do refrão: "Stars are calling you...". Novamente, imaginei a voz de Edu Falaschi nessa música, mas, perdão, Edu, o Fabio está muito bom.

Anteriormente falei "encerrar" entre aspas porque essa música é a última rápida, mas, o Secret Garden (2015) ainda guarda uma música para fechar a obra. Uma faixa inteiramente voz e violão, composta por Rafael, encerra a visita ao jardim secreto. Silent Call é de longe a minha favorita do álbum. É uma música extremamente simples, mas, que soa muito bem. Rafael cantou ela com uma alma tão grande, que ainda não consigo mensurar. Recomendo fortemente você, web-leitor, conferir essa música. A letra também é um show a parte. Uma mensagem positiva forte é transmitida. Foi o encerramento que esse álbum merecia, sem sombra de dúvida.

Terminando a audição do Secret Garden (2015) fiquei com a impressão que o Angra nos convidou a entrar nas raízes mais ocultas de sua criatividade. Se álbuns como o Aqua (2010) e o Aurora Consurgens (2006) são extremamente técnicos, o Secret Garden (2015) é musical. Composições simples, mas, complexas ao mesmo tempo, sem ter a obrigação de serem difíceis de tocar, como eram as composições do Angra. Se eu já tinha gostado do Aqua (2010), o Secret Garden (2015) está muito à frente dele. Já considero ele entre os cinco melhores de toda a carreira do Angra. É um álbum de estúdio, não consigo imaginar boa parte das músicas ao vivo, é um álbum para você escutar em casa, sentado no sofá com uma Heineken, apreciando cada acorde.



P.S: Algo que me ocorreu no fim da postagem é se esse álbum tem ou não ligação com o livro O Jardim Secreto, de 1910. A banda não se pronunciou a respeito, mas, vou analisar as letras e ver a obra para verificar a relação, e publico posteriormente. O Aqua (2010), para quem lembra, foi inteiramente escrito baseado na Tempestade, de Shakespeare. Vamos aguardar.