segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Prosa Rock: Shakespeare in Rock I

Você não leu errado, é isso mesmo, vamos tentar abordar aqui a relação do grande poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, com o Rock N’Roll.

Esse tópico é tão abrangente que decidi dividi-lo em partes. Essa será a primeira parte dessa série que eu vou tentar escrever. Falei “tentar” porque não sou a melhor pessoa do mundo para falar sobre Shakespeare, acho que só li uma peça dele e só.

O que consegui perceber é que o Rock N’Roll possui uma forte relação com a literatura e em particular com Shakespeare, são inúmeros os álbuns dedicados àlguma obra dele. Gostaria de começar essa série com o mais novo álbum do Angra, Aqua, que tive o prazer de adquirir ainda na primeira prensagem.
Capa do Aqua.

O Aqua, que significa “Água” em latim, foi inteiramente escrito tendo por base “A Tempestade”, apontado por muitos especialistas como a última peça que Shakespeare escreveu sozinho.

“A Tempestade” ocorre da seguinte forma: O mago Prospero, duque de Milão, e sua filha Miranda ficaram presos em uma ilha por 20 anos, depois que o irmão ciumento de Prospero, Antonio, ajudado por Alonso (Rei de Nápoles) o destituiu do cargo e o deixou à deriva no mar. Gonzalo, conselheiro do rei, em segredo carregou o navio com comida, água, roupas e os livros mais valiosos da biblioteca de Prospero.

Na ilha, Prospero é servido pelo espírito Ariel, que foi resgatado por Prospero de uma árvore onde foi aprisionado pela bruxa Sycorax. A bruxa foi banida da ilha e morreu antes da chegada de Prospero. Mas, ela deixou um filho, Caliban, um monstro e único habitante não-espiritual da ilha antes da chegada de Prospero. Ele foi adotado por Prospero, e em troca, o ensinou como sobreviver na ilha, enquanto Miranda ensinava a Caliban sobre religião. Após Caliban tentar estuprar Miranda, ele foi condenado por Prospero a servi-lo como escravo. Na escravidão, Caliban passou a ver Prospero como um usurpador, que passou a ver Caliban com desgosto.
Uma das primeiras versões impressas de "A Tempestade".

A peça abre com o pressagio de Prospero de que seu irmão, Antonio, está em um navio passando perto da ilha. Com isso, ele gerou uma tempestade que faz o navio encalhar na ilha. E assim o Angra inicia a sua obra-prima, com a introdução Viderunt te Aquae (“As águas te viram” em latim) e a veloz Arising Thunder.
Também no navio estavam Alonso (rei de Napoles), seus filhos Sebastian e Ferdinand e o conselheiro de Alonso, Gonzalo. Todos voltando do casamento da filha de Alonso, Claribel. Com seus feitiços, Prospero, fez com que todos os sobreviventes ficassem divididos em pequenos grupos na ilha. Esse trecho é citado em Awake From Darkness, um dos pontos fortes do álbum, relembrando o estilo antigo do Angra.

Nesse momento, a peça se divide em atos. Em um deles, Prospero tenta criar uma relação romântica de Ferdinand com Miranda, que imediatamente se apaixonam. Essa passagem é brilhantemente retratada em Lease of Life, uma das minhas músicas favoritas do álbum e de toda a carreira do Angra, realmente não sei como descrever a melodia dela, tudo está perfeito: os vocais do Edu, o piano, a bateria, os solos, etc. se tiverem oportunidade escutem ela. Mas, voltando à peça, Prospero acaba por obrigar Ferdinand a ser seu servo.

Em seguida, no álbum, vem Rage of the Waters. Uma música veloz, fazendo lembrar o bom e velho estilo do Angra, mas agora com um peso a mais, que eu particularmente não esperava encontrar em algum álbum do Angra. É por causa disso tudo que esse álbum já é um dos meus favoritos de toda a carreira deles, eles ousaram mais nele do que em qualquer outro álbum. Essa música, em especial, acho que ficaria muito boa ao vivo.

Na seqüência do álbum vem a também marcante Spirit of the Air, dedicada exclusivamente ao espírito Ariel. A melodia dessa música é bem variada, alternando entre violões acompanhado de corais e guitarras distorcidas. Considero-a também como um ponto forte do álbum, não sei se ao vivo ela teria o mesmo charme. Destaque para o coro de vozes ao longo de toda a música, ficou sensacional.

Voltando à trama, Prospero manipula o destino de todos os seus inimigos para que cheguem cada vez mais próximo dele. Essa parte ficou a cargo da música Hollow, que é uma música que possui também variações na melodia, mas todas pesadas, alternando entre o veloz e o pesado.

Seguindo no álbum, vem a também marcante A Monster in Her Eyes, dedicada inteiramente à Caliban. Se fossemos considerar que as canções foram escritas pelos personagens, posso dizer que A Monster in Her Eyes foi escrita por Caliban e dedicada à Miranda. Essa é uma das minhas músicas favoritas do álbum, é bem na linha de Spirit of the Air, com variações no ritmo e passagens marcantes. Eu gostei muito da letra também, você pode perceber que ela trata, principalmente, de uma pessoa “diferente” e que foi negada pela sociedade, o que acontece muito no nosso dia-a-dia.

No final da trama, Prospero perdoa Alonso, Antonio e Sebastian pela traição. Ariel ficou encarregado de preparar a embarcação que levaria todos de volta para Nápoles (incluindo Prospero e Miranda), onde Miranda se casaria com Ferdinand. Depois disso, Ariel finalmente foi libertado de sua servidão. Caliban também foi perdoado e Prospero resolveu quebrar e enterrar o seu cajado mágico e se desfez do seu livro mágico.

Esse trecho final é retratado muito bem em Weakness of a Man. A letra deixa claro que Prospero abandonou o seu sentimento de vingança e decidiu perdoar todos. Em termos de melodia, eu a achei um pouco abaixo das demais músicas desse álbum, mas mesmo assim, ela merece o seu lugar nesse grande álbum.

A peça termina com Prospero, sem seus poderes mágicos, convidando toda a platéia para libertá-lo da ilha com o seu aplauso. E o Angra encerra, esse que considero um dos seus melhores trabalhos até hoje, com a música Ashes, tratando justamente do mesmo tema abordado na música anterior, com o arrependimento de Prospero e com o convite para recomeçar a sua vida (pedindo que o libertem). A música é quase toda executada no piano, com muitos corais no fundo, a melodia é realmente muito bonita. Os solos estão perfeitos, se encaixam muito bem na música.
Angra: Ricardo Confessori, Kiko Loureiro, Edu Falschi, Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli.

Da mesma forma que o Angra ousou nesse álbum acho que ousei um pouco também escrevendo uma revisão  de “A Tempestade” e “Aqua” juntos. Gostei desse álbum em todos os aspectos: a parte literária está perfeita, o Angra conseguiu fazer uma revisão completa dessa obra de Shakespeare e musicalmente o álbum é outra perfeição, porque eles meio que abandonaram a idéia de fazer um álbum tecnicamente forte para abraçar a idéia de fazer um álbum musicalmente forte, o que eu assino em baixo, espero que continuem assim.

Essa foi a minha revisão do Aqua, espero que tenham gostado e até o próximo Prosa Rock com “Shakespeare in Rock”.

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